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MEDITAÇÕES E INVESTIGAÇÕES - por AIR

Seguem-se sete textos relativos à investigação, constantes do novo site dedicado à Liberação: http://www.air-celebration.org/.



Para ler outras meditações/investigações, acesse http://www.air-celebration.org/air/message-en-portugais.php

ou http://www.air-celebration.org/.


TEM MEDITAÇÕES NOVAS LÁ NO SITE, DE AGOSTO DE 2014.


1- Investigação de 17 de fevereiro de 2014

O corpo.

Vamos começar a investigação.
Então, o posicionamento, ao nível da investigação é, ao mesmo tempo, ser o mais leve possível e, ao mesmo tempo, estar bastante afiado ao nível das ferramentas do mental, para não se deixar adormecer em face da investigação.

O que é a investigação?
A investigação começa no momento em que se reconhece a própria ignorância, no momento em que se sabe que «eu nada sei».
Naquele momento, está-se pronto para começar a ir explorar e a ir para o conhecimento.
Portanto, a investigação é um processo que leva a passar desse estado de ignorância sobre «quem sou eu», ao conhecimento e à vivência de «quem sou eu».

Então, vamos proceder, durante a investigação, indo ver um pouco os preconceitos que se pode ter, as crenças que se tem, nossas certezas.
Em resumo, quanto mais nossas certezas são fortes, mais há matéria para a investigação.
O fato de fazer isso em um espaço de meditação é, principalmente, porque a meditação é focar nossa atenção em um objeto.
Então, há meditações nas quais o objeto está no exterior, nas quais o objeto é a respiração.
Aí, vamos colocar nossa atenção em um tema de reflexão e ver o que se abre.

Então, lembre-se disso: a meditação é puxar sua atenção sobre o objeto da meditação.
E se, a um dado momento, há pensamentos parasitas, se há uma dor em algum lugar, com suavidade, sem dizer-se «ah, bem, preciso treinar mais», etc.
Não, deixa-se passar e volta-se no Amor, na suavidade, sobre o tema da meditação que está aí, a investigação.

Eu esclareço que a investigação faz-se no Amor, no Amor consigo mesmo, no Amor com tudo o que é observado, ou seja, em momento algum se vai observar algo, dizendo «eu sei que tal aspecto é o tema de meus sofrimentos, então, devo suprimi-lo».
Naquele momento, não há investigação, há apenas a crença de que isso é ruim, portanto, não se pode, mesmo, ir observá-lo.
Portanto, vamos tudo acolher com Amor: tudo o que está aí, está aí, e tudo o que você é, de toda a Eternidade, está aí.
Portanto, acolhendo tudo o que está aí, forçosamente, você se acolhe.

Então, vamos começar por algo, por um tema mais simples, em todo caso, para aqueles que já começaram a procurar quem eles eram.
Mas é preciso um ponto de partida, e qual é a partida de minha identidade atual, se eu creio que estou colocado nesse corpo, se eu creio que sou uma pessoa?

O que eu lhes proponho é partir do que nossa sociedade define como nossa identidade.
A identidade, por definição do dicionário, é o caráter permanente e fundamental de alguém.
Então, houve pesquisas importantes, em nossa sociedade, que levaram a definir a identidade de uma pessoa, e isso se chama uma carteira de identidade.
Nessa carteira de identidade encontra-se o nome.
E pode-se rir disso, mas a primeira coisa que se faz quando se conhece alguém é: «eu sou David», «eu sou Michel».
Portanto, a cada vez que se faz isso, adere-se, forçosamente, ao fato de que eu sou esse nome.
Na carteira de identidade há, igualmente, nossa data de nascimento, se se é do sexo masculino e feminino...
E há a nacionalidade e o tamanho, igualmente.

Então, eu lhes proponho começar pela nacionalidade.
Por quê?
Porque, forçosamente, há uma parte de nós, quando já se viveu certo número de realizações, que sabe que não se é francês, que não se é espanhol, que não se é europeu.
E, no entanto, há uma parte de nós que continua a aderir a isso.

Se eu continuo a aderir à existência de alguém no interior do corpo, se eu continuo a aderir, de certa maneira, à sociedade na qual eu vivo, então, eu adiro, de certa maneira, à nacionalidade.
Ainda que fosse apenas o fato de sentir-se mais concernido pelas atualidades de seu país, por exemplo, o fato de sentir-se mais concernido quando acontece um drama, por exemplo, um acidente de avião, se há apenas habitantes do outro extremo do globo, eu não me sinto concernido da mesma maneira do que se há apenas franceses, espanhóis...

Então, tente ver, em si, em qual lugar você adere à nacionalidade.
Ainda que apenas o fato de ir a um país estrangeiro.
Quando se vai a um país estrangeiro e que se apresenta, frequentemente, acrescenta-se: «eu me chamo David, eu sou francês».
É uma das primeiras coisas que é acrescentada.

Portanto, pode-se, já, observar algo: é que, se você encontrou o lugar onde se sente concernido pelo fato de ser francês, ou qualquer que seja sua nacionalidade, quando você é concernido por sua nacionalidade, e se você encontra outro lugar no qual você se diz: «Eu sei muito bem que não sou francês», então, você observa uma das primeiras características do mental: é que o mental é capaz de aceitar tudo e seu contrário, quase ao mesmo tempo.
E isso é algo de muito, muito importante, porque é aí que se apoia a personalidade, para afastá-lo do tema da investigação.
Ser capaz da maior incoerência, como crer-se de um país e, no minuto seguinte, dizer: «Eu sei que nada tenho a ver com esse país».

Então, pode-se, agora, ir um pouco mais profundamente nessa questão: «Eu sou de uma nacionalidade?».
E, aí, é preciso observar o que faz com que se defina uma nacionalidade.
Há uma grande quantidade de elementos históricos que definiram fronteiras em um lugar.
Por vezes, eu sou de uma nacionalidade, enquanto, cinquenta anos antes, tendo nascido nas mesmas condições, eu teria sido de outra nacionalidade.
Por vezes, posso ter nascido em um país, por exemplo, na França, ser de nacionalidade francesa; os pais mudaram-se para outro país, em outra região do mundo, e vou passar minha infância na Ásia, na África, e eu me sinto, naquele momento, por exemplo, mais ligado à África.

Então se vê, efetivamente, que a nacionalidade, o pertencimento a um país depende, ao mesmo tempo, da história da região na qual eu nasci e, também, da história familiar, ou seja, que eu posso ter nascido em um país que não é o país de origem de meus pais, e eu me encontro, por exemplo, com dupla nacionalidade.

Então, aí, dá-se conta, também, de que a nacionalidade vem, simplesmente, tentar definir-me a partir de uma zona geográfica, mas com critérios que são extremamente vagos, porque eu não sei se sou dessa nação, porque nasci nesse solo, ou porque meus pais são dessa nacionalidade, ou porque eu deixei meu país e obtive uma nova nacionalidade.
Em suma, a nacionalidade pertence à construção cultural desse mundo.
E, finalmente, observando atentamente, não se consegue encontrar-se em lugar algum.
Então, esse é um exemplo bastante simples.

Vamos, agora, passar a outro elemento da carteira de identidade, que é a data de nascimento: «Eu nasci em tal dia, em tal lugar».
É uma noção fundamental, porque isso significa que, se nasci em tal dia, eu nasci.
Se eu nasci, isso significa, primeiro, que, forçosamente, eu vou morrer, porque o que nasceu, ou seja, esse corpo, tem uma saída perfeitamente conhecida, que se chama a morte.

E aí se vê, também, uma incoerência bastante frequente, que é: eu sei que nasci, eu vivo como se tivesse nascido, como se eu fosse esse corpo, ainda que apenas querendo mantê-lo em segurança e, ao mesmo tempo, eu creio, por exemplo, que vou continuar a viver após a morte, ou eu creio na reencarnação.
Então, aí, vê-se como nosso mental, eu repito, é capaz de uma incoerência enorme.
Ao mesmo tempo, fazer-nos aderir ao fato de que somos esse corpo, ao mesmo tempo, fazer-nos aderir ao fato de que somos outra coisa que não esse corpo.
E isso é realizado há anos, diante de nossos olhos, sem que se tenha podido dizer, a um dado momento, ao nosso mental: «Aí, há algo que não vai, há algo que não é lógico».
Ora, vocês todos sabem que o mental ama a lógica.

Então, eu sou esse corpo?
Se eu sou esse corpo estou, forçosamente, colocado dentro, ou na superfície, enfim, em algum lugar nesse corpo.
E aí, pode-se Investigar de diferentes maneiras.
Primeiro, olhando: eu estou, por exemplo, em algum lugar nas pernas, nos pés?
E aí, vamos dizer: obviamente que não!

Quando uma pessoa perde um membro, seja uma perna, um braço, diz-se: «ela perdeu um braço», não se diz «ela se perdeu» ou «ela não está mais».
E, no interior, a pessoa que vive a perda de um membro tem a sensação de que lhe falta um membro, mas não tem a sensação que se tenha tocado em sua essência.
E é a mesma coisa ao nível de cada órgão do corpo porque, hoje, a medicina é capaz de trocar não importa qual órgão, sem que a pessoa que sofre essa operação tenha o sentimento de não mais ser a mesma.
E isso é, igualmente, verdadeiro ao nível do cérebro no qual, em alguns momentos, pode-se intervir no cérebro devido a um tumor.

Portanto, se se olha – tendo observado tudo isso – no interior desse corpo, você não pode ver, em um único lugar, a presença do que você é.
Absolutamente, nada há...

Eu os deixo saborear um pouco esse vazio no interior...
Poder-se-ia dizer que é um momento de repouso na investigação, um momento no qual se pode colocar, antes de reiniciar.

É uma noção fundamental, na investigação: saber respirar durante a investigação, saber, também, parar a investigação durante um momento, quando se é mais capaz de manter a atenção.

E eu lhes proponho, igualmente, olhar o corpo sob outro ângulo.
Se o que eu sou (vimos que eu não era esse corpo, mas retornemos à hipótese, novamente, de que, talvez, eu tenha perdido algo ao nível da pesquisa, e retornemos a visitar de outro modo), se eu sou esse corpo, então, o que é que eu posso fazer, o que é que acontece quando, por exemplo, eu como uma maçã?
Uma vez que, aí, quando eu olho, antes de comer, eu sou esse corpo, nessa integralidade, eu acrescento um alimento no interior, que integra o corpo.
Será que esse alimento mudou minha natureza profunda?
Porque esse alimento vai espalhar-se no conjunto do corpo, de diferentes maneiras...
Será que minha natureza profunda muda, a cada ingestão de alimento?
Será que eu perco uma parte de minha natureza profunda, a cada vez que eu vou ao banheiro?
O que era uma parte do corpo, a um dado momento, não faz mais parte dele.
Será que isso mudou algo?

O ar que eu inspiro e o ar que eu expiro mudam minha natureza?
Porque o ar que eu inspiro passa, igualmente, no conjunto de células, e integra o corpo.

Pode-se olhar as coisas ao nível da pele.
A pele é o que define o limite de meu corpo.
Ora, a cada instante, uma parte da pele, na superfície, morre e desprende-se do corpo.
Quando eu me lavo, eu faço sair esses elementos de pele.
Então, o que definia o limite do corpo na véspera, não faz mais parte do corpo.
E vocês sabem que é assim para o conjunto de células: tudo se regenera, permanentemente, no corpo; os órgãos, tal como eles são, hoje, são renovados, a cada instante, até não mais serem compostos das mesmas células – em função de cada membro – que há uma semana, vários meses, vários anos.
No entanto, algo, o que eu sou, não muda.

Aí também, o que eu sou mostra que não pode ser colocado em qualquer parte do corpo que seja, pois cada parte do corpo desaparece, regularmente.

Agora que isso é observado, em função de sua vivência, aparece a certeza, ou não, de que você não é esse corpo.
Seja o que for, assim que você esteja na vivência de que você não é esse corpo, ou que você esteja, ainda, na interrogação, reproduza, agora, onde você está nisso: eu não sou esse corpo, ou eu parei isso em tal lugar da investigação, ou eu não sei mais, verdadeiramente, onde eu estou nisso.

E, agora, interrompemos a investigação.
Agora, saímos, simplesmente, desse espaço, com a vivência do que ali aconteceu, e tudo volta à vida.
Não se permanece na questão, de maneira superficial.
Se, a um dado momento, você quiser voltar a essa questão, por si mesmo, tome um tempo sozinho, onde quer que você encontre o tempo para continuar a investigação.


Guiado por Air
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2- Investigação de 18 de fevereiro de 2014

Os sonhos, a consciência.

Antes de continuar a investigação, vamos, já, colocar-nos no interior do corpo, por exemplo, ao nível do Coração.
Vamos tomar um pequeno tempo para observar um pouco o que está vivo no corpo.

Então, ontem, pudemos investigar acerca da questão: «Eu estou nesse corpo? Eu sou esse corpo?».
Hoje, vamos investigar, partindo dos sonhos.

Se se toma um sonho, não importa qual, apercebe-se de que há, sempre, um cenário, quer continuemos nesse sonho sob uma forma ou sob outra forma; que há, sempre, outros nesse sonho, e que tudo isso interage de maneira, eu diria, bastante comum, uma vez que, de fato, os outros podem ou estar em uma relação suave conosco, ou em uma relação violenta.

Acontece mesmo que, em alguns sonhos, possa-se dizer que algumas reações dos atores do sonho eram, verdadeiramente, insuportáveis e muito, muito distantes de nossos valores.
Exceto que, se se olha, atentamente, o conjunto do sonho: o corpo, os corpos dos outros, as ações dos outros, as palavras dos outros, tudo isso sai e emerge apenas de nós mesmos.

Então, aí, vamos tomar um tempo para, verdadeiramente, acolher isso.

Em um sonho, eu crio corpos, eu crio outros, eu crio interações entre os outros, eu crio interações entre os outros e o que eu me criei como veículo, como corpo.
Eu crio cenários, eu crio, mesmo, sensações dolorosas.
Em suma, eu sou capaz de criar um mundo no qual eu vivo, e tudo isso, unicamente, no que eu sou.

Agora, quando eu saio do sonho, quando saio do sono, há meu corpo, há o corpo dos outros, há os cenários, há interações entre os outros, interações entre eu e os outros...

Então, se o olhamos com honestidade, sem procurar tirar uma conclusão precipitada, pode-se apenas constatar que tudo o que é criado no que se chama a realidade, eu posso criá-lo no que eu sou, uma vez que eu posso criá-lo em um sonho.
Isso nos leva não a dizer que eu estou em um sonho, mas, ao menos, a reconhecer que eu não sei se tudo o que é criado sob os meus olhos, na realidade, não é criado, da mesma maneira que o é um sonho, no que eu sou.

Então, o mental pode tentar criar piruetas para nos tirar dessa constatação, mas todas as piruetas que ele encontrar não terão qualquer consistência em relação ao fato de que eu sou capaz de criar meu próprio corpo, o corpo dos outros e um cenário, tudo isso em meu sonho.

Então, pode-se dizer que há, efetivamente, uma diferença: é que, quando eu acordo, a história recomeça, aproximadamente, no momento em que ela parou, quando eu adormeci na realidade.
Mas o fato de que a realidade seja mais «longa» não prova que não seja um sonho, não prova que ela não seja a criação do que eu sou.

Então, volte, sempre, a esse ponto, se você se deixa arrastar alhures, a questão que se coloca, aí, a nós, é: será que é possível que eu seja o criador do conjunto do que se desenrola?
A questão não é: será que eu sou o criador de tudo de quem se desenrola?
Mas: será que é possível que esse seja o caso?
E aí, pode-se apenas chegar à conclusão de que sim, é possível, sim, eu sou capaz de criar tudo isso.

Então, isso nos leva à questão: quem é capaz, no conjunto de meu funcionamento, do funcionamento do que eu creio ser, quem é capaz de criar os sonhos?
Quem é capaz de desenvolver, assim, formas, atores e de ali colocar-se?
Alguns cientistas quiseram mostrar que os sonhos sediavam-se ao nível do mental.
Então, simplesmente, o que se pode tentar observar é que meu mental, quando estou acordado, quando estou fora do sonho, fora do estado de sono, será que meu mental cria, assim, um filme, e será que ele é capaz de ali colocar-se?
Será que eu posso, estando acordado, ver meu mental: desenvolver o que se desenvolve em um sonho?
Obviamente, não, em momento algum você consegue recriar o estado de sonho estando acordado.

Seu mental funciona por impulsos de pensamentos.
E aí, chega-se a um ponto importante, crucial da pesquisa, uma vez que ela nos leva a constatar não tendo encontrado, mas, simplesmente, vendo que falta algo no edifício, constatar que isso não vem do mental, isso vem de algo mais, algo que é capaz de projetar-se no que ele cria.
E aí se pode, sem procurar colocar-lhe nome, desenhar, um pouco, os contornos e o funcionamento dele.

Portanto, esse algo é capaz de criar um mundo, de ali projetar-se e de ali viver uma experiência, e esse algo, quando eu estou acordado, não cria mundo suplementar àquele no qual eu me desenvolvo, e esse algo está, necessariamente, aí.
E, no sonho, esse algo se projetou no interior do corpo que correspondia ao corpo criado por ele.

Então, esse algo, quando estou acordado sem, forçosamente, definir, precisamente, o posicionamento, eu posso reconhecer a presença dele nesse corpo, nessa experiência, uma vez que há, efetivamente, algo que se deslocou do sonho para esse corpo, e que me dá, agora, a sensação de que eu sou esse corpo.
A um dado momento, no sonho, eu era outro corpo e, agora, eu sou esse corpo.

Então, vamos fazer uma pausa, nesse momento da investigação, para proceder de outra maneira.
Há numerosos testemunhos de pessoas que viveram EQMs, experiências de morte, muitas pessoas que viveram, igualmente, saídas do corpo.
Todas testemunham o fato de que, a um dado momento, elas se encontraram no exterior do corpo e que podiam ver o próprio corpo.
Naquele momento, as pessoas sabem que elas não são seu corpo.
Elas se juntaram a outro corpo, corpo astral, corpo de Luz, corpo de Existência, pouco importa.
Em todo caso, elas deixaram esse corpo e colocaram-se alhures.
Isso nos mostra, efetivamente, que há algo que vem projetar-se no corpo, que faz crer que nós somos esse corpo.
Esse algo, eu lhes proponho que o chamemos, juntos, «consciência»…

Então, vemos, aí, algumas funcionalidades dessa consciência, essa capacidade para projetar-se em um corpo e para, instantaneamente, levar à crença de que eu sou esse corpo.
No sonho, quando eu sonho, eu sou o corpo no qual a consciência projetou-se.
Quando eu faço uma experiência de saída do corpo, eu não sou mais o corpo físico, mas sou o que flutua no teto, por exemplo, eu estou nesse corpo diferente que flutua, que se desloca.
Observa-se que é instantâneo, ou seja, assim que a consciência coloca-se em algum lugar, instantaneamente, aparece com ela a convicção de que eu sou isso em que a consciência colou.
Não há necessidade de tempo de adaptação, é automático.

Vê-se, através do sonho, que a consciência é capaz de criar um mundo, e de ali projetar-se a si mesma.
E vocês têm, certamente, vivido outras possibilidades da consciência, quando, por exemplo, sentem-se completamente conectados a uma árvore, completamente conectados a outro ser.
Naquele momento, no momento em que vocês comungam com a árvore, não há mais seu corpo e aquele da árvore, há uma fusão.

E, juntos, eu lhes proponho, agora, experimentar outra possibilidade da consciência, aquela de expandir-se no conjunto do universo.
Para isso, eu lhes proponho, primeiramente, colocar-se em seu corpo físico, sentir a ligação à Terra, sentir como que raízes que saem de seus pés e que os levam a expandir-se na Terra...

Sentir, igualmente, o ar em todo seu redor, acima, e você expandir-se nesse Ar que forma, assim, uma bolha em torno de você...

E deixe-a crescer, para conectar-se, agora, à pessoa ou às pessoas que estão ao seu lado...

Em seguida, ao conjunto de pessoas aqui presentes...
Integrando, igualmente, as pessoas presentes em outros lugares desta casa...

Nessa bolha de Amor, você é capaz de acolher o conjunto de habitantes do planeta...
E de englobar o próprio planeta...
Você pode englobar o Céu, o Sol...
E você se expande, no conjunto do Universo, espalhando seu Amor...

Você pode ficar aí, a englobar o conjunto da Criação...
E você pode, então, observar essa capacidade de sua consciência para englobar toda a Criação...

Nessa fase, você não reconheceu, ainda, a consciência, mas pôde ver algumas de suas possibilidades, e pôde, igualmente, constatar que o observador está colocado ao nível da consciência.
Para reconhecer a consciência, será preciso, então, deixar o observador.

Então, mantendo a consciência da maneira a mais leve possível, deixe-a desdobrar-se na Criação, você pode abrir, suavemente, os olhos, e dar-se conta de que, naquele momento, a consciência reintegra esse corpo, ao mesmo tempo flutuando alhures.

Mas, talvez, instantaneamente, houve, novamente, o aparecimento de um «eu sou esse corpo», e você sabe, agora, de onde vem essa sensação.


Guiado por Air.
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3 – Investigação de 19 de fevereiro de 2014

A memória

Vamos acomodar-nos, confortavelmente, para prosseguir nossa investigação...

Eu lhes proponho que se vá investigar, agora, ao nível do funcionamento da memória.
Mas, ao invés de colocar-se nas lembranças, eu lhes proponho começar agora, Aqui e Agora, tentando gravar, tentando integrar tudo o que acontece.
Para isso, vocês tenham, talvez, necessidade de ver o que acontece ao nível interior.
O que é que acontece no corpo?
O que é que acontece no exterior?
Ao nível dos sons?
Talvez, abrir os olhos, ao mesmo tempo permanecendo atento, tentar tomar todas as informações possíveis...
Voltar a fechá-los, se vocês estão prontos agora, tentar ver o que resta desse instante que acaba de passar... e ver que, por exemplo, tudo o que foi sentido no corpo, vocês não têm mais acesso a isso na lembrança, que vocês puderam ali colocar algumas informações factuais da organização da sala, mas que vocês não puderam integrar tudo.
Por exemplo, se eu lhes pergunto em qual ordem estão colocadas as pessoas na sala, ou as fotos na sala... vocês vão tentar recolocar-se no presente, porque estamos, ainda, ali.
Mas, no passado, vocês não têm mesmo, talvez, o vestígio disso.

Se eu lhes peço, agora, para dizer-me o que nós comemos, por exemplo, ontem à noite, vocês vão dar-me o nome dos alimentos, mas não poderão, em caso algum, trazer a sensação que tiveram, no momento em que comeram, o aroma que ali havia, se estava calmo, ruidoso, como vocês estavam naquele momento...

Portanto, pode-se, assim, indo cada vez mais ao passado, dar-se conta de que as lembranças são cada vez mais superficiais, e que, eventualmente, aquelas de que se lembra bem são, finalmente, aquelas que se conta mais.
E esse é um dado importante porque, se você toma uma lembrança de algo que tenha vivido de um pouco extraordinário, frequentemente, no momento em que o tenha vivido, você não procurou colocar palavras em cima.
E, em seguida, quando você o contou, você colocou palavras em cima e, talvez, palavras diferentes a cada vez que você o tenha contado.

E você pode observar, se encontrar a boa lembrança, que a lembrança que você tem corresponde, agora, à maneira pela qual você a conta, ou seja, que a lembrança foi modificada, pelo próprio fato de contá-la e as palavras que utiliza para contá-la.

Eu vou, igualmente, contar-lhes uma experiência que foi feita por cientistas, concernente aos sonhos, uma experiência que foi realizada junto a um grande número de pessoas, uma centena de pessoas ou mais, quando foram apresentadas fotos às pessoas, fotos de sua infância, todas verdadeiras, exceto uma, que era uma montagem delas quando crianças, em um lugar no qual elas jamais estiveram.
E, quando as fotos eram apresentadas às pessoas, quando do primeiro teste, há certo número de pessoas, muito pouco, que reconheceu essa pessoa e que disse: «Ah sim, eu me lembro, eu fui a tal lugar com tal e tal pessoa de minha família», e as outras não se lembravam.

Quinze dias após, o teste foi repetido e, em face dessa foto, a quase totalidade das pessoas lembrou-se, lembrando-se de ter estado nesse lugar e as circunstâncias que haviam levado a essa foto.

Isso significa, de fato, que nossa memória continua a informar-se, em função de elementos que a ela se aporta, em função do que se conta, em função do que outros nos contam.
Por exemplo, nossos pais podem contar-nos uma lembrança de infância, e acabamos por integrá-la como, efetivamente, algo de vivido, enquanto não se lembrava daquilo de início.

Pode-se, também, de maneira muito mais leve, olhar quantas vezes se esteve certo de colocar um objeto, por exemplo, as chaves do carro, as chaves da casa sobre tal mesa, em tal lugar...
«Isso é certo, alguém pegou minhas chaves!».
E, de fato, encontram-se as chaves no fundo do bolso, no fundo da bolsa, sobre outra mesa...
Tudo isso nos mostra que, de fato, a memória não tem confiabilidade alguma, que não se sabe se as lembranças que se tem são lembranças reais ou se são lembranças que foram criadas pelas histórias que se contaram, que transformaram a história.

Como para a história das chaves, pode ser, mesmo, que se invente alguns passados.
Em todo caso, não se pode constatar o conjunto dessas disfunções da memória e confiar na memória.

Aliás, é muito interessante, também, olhar, do ponto de vista da sociedade, como isso acontece.
Se você olha os eventos políticos, o conjunto do que acontece, há o que é comunicado pelas mídias, há, frequentemente, contradições, embora não se saiba, exatamente, o porquê e o como.

Vou tomar um exemplo para isso.
Eu me lembro de ter visto uma imagem, quando eu estava na Bósnia, de uma casa que queimava em Kosovo.
E, no canal de televisão France 2, o comentarista dizia que os Albaneses fugiram porque os Sérvios queimaram suas casas.
No canal TF1, eles diziam que os Sérvios retiraram-se e queimaram suas casas ao partir.
E, no canal LCI, foi dito que os Sérvios retiraram-se e que os Albaneses queimaram as casas.
Tudo isso com a mesma imagem da casa.

Em contrapartida, se olhamos os elementos do passado muito mais distante, por exemplo, como viviam os Romanos, o que aconteceu durante tal ou tal guerra, então, aí, a história parece muito, muito simples.
Não há mais do que uma única opinião, uma única versão, e todo mundo adere a ela.

Vê-se, efetivamente, no presente, que uma situação compreensível, simples, não existe, verdadeiramente.
Em contrapartida, que possam dizer-nos, exatamente, o que aconteceu há dois mil anos ou, mesmo, cem anos, de maneira muito clara, isso nos parece possível.
E essa é a magia da memória, a memória que simplifica tudo e que retém apenas uma versão, apenas uma parte do que aconteceu ou, mesmo, nada aconteceu, e uma pessoa começou a contar a história de algo que teria acontecido.
A história dessa pessoa ganha a adesão e ela se torna uma história oficial.

Então, se vocês estão no mesmo ponto que eu, naquele momento, não podem mais confiar na memória.
Vocês podem ver imagens passarem que corresponderiam à memória, mas não mais a elas dar crédito, porque vocês não sabem, em momento algum, se isso ou aquilo é verdadeiro.
Isso faz parte de uma história que é transportada, transformada, progressivamente e à medida do tempo.

Agora, se colocamos a memória de lado, se renunciamos a utilizar a memória, reconhecendo que a memória não tem confiabilidade alguma, é-lhes possível identificar o passado?
Obviamente, não...
E, aí, observa-se que a única coisa que nos faz aderir a uma noção de passado é algo que resulta completamente errôneo, e que se pode carregar, preencher à vontade, uma vez que basta fazer passar uma foto, pedindo-nos para lembrar-nos do que aconteceu naquele momento, quando se era criança, para que, no fim de certo tempo, tenha-se uma lembrança daquilo, enquanto isso jamais existiu.

Isso quer dizer que, se todas as lembranças tivessem sido colocadas, da mesma maneira, apenas agora, isso nos permitiria aderir a um passado que seria completamente fictício...

A não adesão à memória leva-nos, agora, a viver o não desenvolvimento no passado.
O simples fato de acolher o que vem na memória como algo sobre o que não se pode apoiar, que não nos concerne, dissolve, instantaneamente, o passado.

Vamos terminar aí nossa sessão de investigação de hoje.
Simplesmente, lembrar-se, aí, onde se chegou, se nós ali chegamos.
Eu não posso confiar em minha memória, e eu não sei, devido à não validade de minha memória, eu não tenho qualquer meio de verificar a validade do tempo.
Nós não chegamos ao «o tempo não existe», mas ao «eu não posso verificar a validade do tempo».

Guiado por Air.

4 – Investigação de 20 de fevereiro de 2014

O mental

Vamos acomodar-nos, confortavelmente, acolher o que acontece no corpo...
Vamos lembrar-nos de onde estamos em nossa investigação.

Nós chegamos à certeza de que não éramos esse corpo.
Isso faz parte de coisas sólidas sobre as quais se pode apoiar agora.
Nós chegamos a reconhecer que não sabíamos se o mundo era real ou se ele foi criado a partir do zero por nossa consciência, e chegamos à constatação de que não se pode confiar em nossa memória.
E constatamos, também, que, sem a memória, nós não tínhamos acesso ao passado.
Portanto, nós não podemos confiar na memória, não podemos confiar na existência ou não de um passado.

Então, vamos, hoje, investigar o mental, termo que se utiliza frequentemente.
Mas a primeira questão que se pode colocar é: como definir o mental?

Então, alguns poderiam dizer: é a atividade que acontece ao nível do cérebro, e, aí, isso decidiria, diretamente, a questão, uma vez que, o cérebro, sendo uma parte do corpo, e não sendo, nós mesmos, esse corpo, o mental não teria existência no que eu sou.
Ele não poderia ser o que eu sou ou uma parte do que eu sou.

Mas pode-se, também, definir o mental como a sucessão dos pensamentos.
Então, pode-se observar que há o estado comum, no qual os pensamentos não param de funcionar, é um fluxo ininterrupto, e há os momentos nos quais nossa consciência coloca-se no Ser, por exemplo, nos quais o fluxo de pensamentos pode desacelerar.
Há, mesmo, testemunhos de que os pensamentos podem parar, a um dado momento.

Mas vamos, de momento, tentar investigar sobre o que acontece quando os pensamentos são ininterruptos...

Então, como se desenrolam os pensamentos?
Vocês todos puderam observar, em si, que alguns pensamentos podem encadear-se, automaticamente, uns atrás dos outros, da mesma maneira, por vezes, acrescentando emoções ao fluxo de pensamentos...
Admitamos que se esteja em um trabalho no qual as relações possam ser complicadas com os colegas.
Pode-se começar por dizer-se que as relações são complicadas, que é preciso agarrar-se, porque não se deve perder o trabalho; dizer-se, em seguida que, se perdemos o trabalho, não poderemos mais pagar o aluguel e que, por exemplo, ficaremos na rua, que não poderemos mais comer.
Aí está um exemplo grosseiro.

Mas os pensamentos encadeiam-se, uns atrás dos outros e, geralmente, em todo caso para aqueles que vêm mais frequentemente, eles se apresentam a nós da mesma maneira, ou seja, no mesmo fluxo.
Então, a primeira questão que se pode colocar é: se os pensamentos organizam-se, sistematicamente, de maneira automática, então, onde está a inteligência?
Onde está nossa capacidade de discernimento?
Onde está a capacidade do mental para colocar-se, corretamente, no que acontece?

Aí se vê, também, que o mental, para analisar a situação, ou as situações, vai, muito frequentemente, utilizar elementos de memória, que levam a analisar o que acontece agora, em função do que ele armazenou anteriormente.
Por exemplo, se eu me encontro em face de um animal, em função do passado, eu vou ou ficar na posição de proteção, de fuga, ou ir ao encontro do animal...
O que quer dizer que o que dirige, naquele momento, meus pensamentos e minha maneira de agir vem, unicamente, do passado, passado do qual nós não pudemos provar a existência real, apoiando-se em memórias das quais não temos certeza.

Então, aí, pode-se tomar um tempo e pedir ao nosso mental para encontrar uma ideia que não viria nem do passado ligado ao que nós vivemos, nem do passado ligado ao que nos foi inculcado: todas as regras morais, sociais, familiares nas quais nós estivemos colocados.

Há um único instante no qual o mental seja capaz de separar elementos de memória vividos ou inculcados?

Pode ser que, ao nível de seus pensamentos, você tenha pensamentos que cheguem, dizendo: «Ah, talvez isso, talvez aquilo...».
Mas, olhando atentamente, você verá que há, forçosamente, um vestígio, ligado à educação, ligado às regras sociais, ligado ao que você reteve na memória de seu «passado».
Esse é um ponto fundamental, sobre o qual eu os convido a voltar várias vezes para, verdadeiramente, colocarem-se nessa certeza de que não há qualquer pensamento novo que não venha ou de sua memória, ou que seja impulsionado pelo exterior, dir-se-ia, uma memória exterior.
Portanto, não há qualquer pensamento que venha do interior que possa estar fora de seu próprio esquema de pensamento.
O que quer dizer que o novo não pode ser acolhido pelos pensamentos.
O que significa que, se hoje você não pode responder à questão «quem sou eu?», a resposta não poderá, em caso algum, vir de seus pensamentos.
Nenhuma análise o permitirá, porque você pôde observar, por si mesmo, que seus pensamentos não são capazes de analisar o que se apresenta a você com outra coisa que não o passado, outra coisa que não as caixas de memória.

Então, pode haver o pensamento de um desapontamento, ou um pensamento que venha dizer-lhe: «Mas então, como se pode fazer?».
Mas veja que, mesmo isso, é ligado ao passado, ou seja, é ligado à maneira pela qual a busca foi conduzida até agora.

Ao inverso, pode ser que, para alguns, o fluxo de pensamentos pare, o que indica, naquele momento, que o mental compreendeu, reconheceu, por seu próprio funcionamento, que ele não era capaz de ir para onde ele queria ir.
Ele não é capaz de levar o que você é ao reconhecimento do que você é.
E o mental, reconhecendo isso, pode debater-se, ou capitular.

Eu os deixo alguns instantes, para observarem, atentamente, o que acontece em seus pensamentos, e não procurem lutar contra.
Tragam, simplesmente, a pura lógica.
Não se luta, quer-se, simplesmente, trazer a coerência.
O que quer que aconteça, verificamos se há coerência...
Seja vigilante, igualmente, para jamais permanecer demasiado tempo...

Uma vez que a demonstração seja feita, não há mais necessidade de voltar: a demonstração está feita.
Tudo o que nos interessa é chegar a coisas claras, demonstradas, vividas, sobre as quais se possa continuar a avançar em nossa investigação.

Portanto, se chegamos ao mesmo ponto, sabemos, agora, que os pensamentos não são apropriados para encontrar o que eu sou.

Vamos prosseguir, acerca da noção de pensamentos, simplesmente, voltar onde estávamos, quando observamos o fluxo de pensamentos, no qual os pensamentos encadeavam-se, uns nos outros, e tentar encontrar se há um pensamento que venha, sistematicamente, implantar o conjunto do fluxo dos pensamentos.
Porque, uma vez que se tenha observado que nossos pensamentos podiam encadear-se de maneira automática, mesmo em quaisquer pensamentos, pode-se colocar a questão: há um primeiro pensamento que vem desencadear o conjunto do fluxo de pensamentos?

Esse primeiro pensamento, apenas se pode encontrá-lo na sequência de uma parada dos pensamentos, ou seja: o que é que, naquele momento, estimula os pensamentos?
E um dos momentos que todos vivemos, no qual os pensamentos param, é no momento em que se dorme.
Aliás, quando o fluxo de pensamentos é demasiado importante em alguns momentos, tem-se apenas uma vontade, é a de dormir, para que isso pare.

Então, o que acontece quando se sai do sono, que volta a desencadear os pensamentos?
A primeira coisa, o primeiro pensamento que acontece, no momento em que se acorda, é o aparecimento consciente, ou não, do pensamento «eu existo», «eu… sou», seguido de «esse corpo», «nesse mundo».
Aí está o que acontece a cada manhã, a cada despertar: a noção da existência que reaparece, a noção da existência nesse corpo e a noção desse corpo nesse mundo.
E todos os outros pensamentos decorrem daí.

Tendo demonstrado que nós não éramos esse corpo, se estamos suficientemente vigilantes ao acordar, podemos parar, sem lutar, o fluxo de pensamentos no «eu existo».
Porque, no momento em que aparece a noção de «nesse corpo», eu posso puxar o que foi vivido, de maneira lógica, junto: o que eu sou não é ligado a esse corpo, não está nesse corpo.
E, se o que eu sou não é ligado a esse corpo, como o mundo pode implantar-se?
Nós podemos deixar o corpo agir nesse mundo, sem estar nesse corpo, sem ser esse corpo nesse mundo.
E isso nos leva, também, a essa noção de pensamentos permanentes, dos quais se falou no início, que ali havia pensamentos em fluxo permanente, e que, com alguns posicionamentos no Ser, os pensamentos desaceleravam ou, mesmo, desapareciam.
E compreende-se, com o que acontece ao acordar que, se a noção de «eu», de «eu sou esse corpo» desaparece, então, inevitavelmente, o fluxo de pensamentos desacelera.
Isso permite verificar que o que se constata pela manhã aplica-se em outros momentos, quando nós nos extraímos da noção do «eu».

Portanto, dado que pudemos constatar, juntos, que nós não éramos esse corpo, pode-se apenas constatar que o fluxo ininterrupto dos pensamentos, que emerge após a noção da existência de um «eu» e de «eu sou esse corpo» é, forçosamente, errônea.
O fluxo de pensamentos vem apoiar-se, implantar-se, na sequência a um pensamento que nós já verificamos como falso.

Vamos parar aí por hoje.
Tentem sair dessa meditação sem aderir à noção de «eu sou esse corpo».


Guiado por Air


5 – Investigação de 21 de fevereiro de 2014

As emoções, o medo.

Então, hoje, vamos continuar a investigação que começamos desde o início da semana, mas vamos mudar um pouco de método, vamos abrir os olhos.
Não se vai, necessariamente, procurar ver os outros, mas vamos colocar o olhar não importa onde, no espaço...

Em um primeiro tempo vamos, já, observar se houve, durante essas primeiras experiências, momentos nos quais eu escapei da investigação.
Esses momentos nos quais eu escapei da investigação puderam manifestar-se de muitas maneiras diferentes; primeiro, colocando-se no Ser e ali se deleitando, e esquecendo-se do objeto da investigação ou, mesmo, não o ouvindo mais.
Então, naquele momento, vivemos supermomentos durante a investigação, mas a investigação não avançou.

Há, também, outras maneiras de não entrar na investigação ou de sair dela, que são, a certo momento, o mental, que reage, colocando, por exemplo, a raiva, ou colocando um pensamento como «eu não vou chegar ali, não é para mim agora».
Mas eu os lembro de que não se tem qualquer lugar onde chegar, que a única coisa que se procura é ver claramente, ver a Verdade.
Portanto, não se procura chegar onde quer que seja, quer-se apenas saber se se pode evoluir em alguma coisa de coerente.

Então vê-se, efetivamente, que, em função da maneira, também, pela qual é guiada a investigação, e pela qual se guia, por si mesmo, a investigação, ter-se-á tendência, efetivamente, para partir no Ser ou partir nos pensamentos.
Vê-se, também que, de certa maneira, pode-se compreender, porque se experimentou, a diferença quando se escuta Sri Nisargadatta.
Ao nível do ritmo, é muito rápido, é cortante; ao nível da potência vocal, é muito forte, tudo isso para manter uma forma de tensão que vai deixar-nos na pessoa, aí, onde se efetua a investigação, ou seja, no mental.
Então, a dificuldade é que, naquele momento, pode-se, efetivamente, colocar-se na resistência.
Mas vê-se que, se a investigação faz-se em algo de mais suave, dado que se está eliminando coisas na pessoa, pode-se, rapidamente, reencontrar-se no Ser e, de repente, perder a investigação.

Portanto, isso nos leva aos dois componentes que vão permitir-nos colocar, de maneira apropriada, a atenção ao nível da investigação, esses dois componentes que são os componentes que se começa a conhecer bem: o Amor e a Sabedoria.
Ser capaz de acolher o que vem no Amor, o que quer que venha, qualquer que seja o pensamento, e a Sabedoria de permanecer na presença da investigação.

Então se, a um dado momento, vocês veem, no interior de si, que há uma maneira de escapar da investigação, a primeira coisa a fazer é recolocar-se nesse posicionamento interior, nesse equilíbrio, e, se vocês partiram, completamente, nos pensamentos que os arrastam a um esquema de resistência, coloquem o Amor.
Se vocês estão nesse banho de Amor tão bem, banhando-se muito, tão afastados que não podem mais investigar, porque está bom demais, transfiram a atenção à Sabedoria.

Portanto, esse equilíbrio ao nível da atenção é primordial para poder continuar a investigação.
E aí, vai-se retomar, rapidamente, porque já se fez a investigação, e se vocês deixaram passar um pouco da investigação, eu os convido a refazê-la, por si mesmos, relendo ou reescutando a investigação.

Mas, quando da primeira investigação, nós havíamos constatado que o que nós somos não podia, de maneira alguma, ser esse corpo.
O que nós somos não é esse corpo.
E, novamente, não se trata, agora, de refazer o caminho.
Demonstrou-se isso, não há mais que voltar a esse assunto.
Se vocês o viveram, se o constataram, por si mesmos, não é mais algo que tenha necessidade de ser comprovado, só seu mental dirá a vocês que é preciso prová-lo de novo.
Mas não há necessidade de comprovar o que foi provado.

Até o presente, vocês têm vivido sem nada provar, aí, vocês vêm provar a si mesmos que o que vocês são não é esse corpo.
O que vocês são não é esse corpo, portanto, não há necessidade de voltar a comprovar: tem-se a demonstração, apoia-se nela para a sequência.

Fomos explorar o que é a consciência, e viu-se que a consciência podia colocar-se nesse corpo, colocar-se no universo inteiro, colocar-se em diferentes lugares, e que a vivência era completamente diferente.
Isso reforça o fato de que nós não somos esse corpo, se ali havia necessidade de reforçá-lo, mas, como já se demonstrou, não se tem necessidade de refazê-lo.

Portanto, constatou-se a presença da consciência.
Naquele momento, não se demonstrou que nós éramos a consciência, constatou-se a presença da consciência.
Em seguida, nós fomos observar a maneira pela qual se organizava a memória, e constatamos que nós não podíamos confiar na memória.
Basta localizar uma falta, ao nível da memória, para saber que a memória é falível e que, de repente, não se pode apoiar nela, uma vez que, como se viu, eventos podem ser criados ao nível da memória.
O próprio fato de contar um evento modifica a memória e, além disso, na memória, integram-se montes de valores que nos são transmitidos pelo conjunto da sociedade, pais etc.

Portanto, viu-se que não se podia confiar na memória e constatou-se que, se não se utilizasse a memória, nós não podíamos observar, não podíamos dar corpo à noção de tempo.
Portanto, nós não sabemos se podemos aderir à noção de tempo ou não.
Em todo caso, nós não temos qualquer meio de validar a existência do tempo nessa fase, não tendo ferramentas para validar sua existência ou não.
E ontem, nós observamos como funcionavam os pensamentos, como eles se enredavam uns aos outros, e como todos os pensamentos apoiam-se apenas no antigo, apenas na memória que não se pode validar, que não se pode tomar como uma verdade..., e no fato de que eram, sistematicamente, os mesmos esquemas que se reproduziam, e que todos os esquemas começavam ao acordar, por essa noção de: «Eu existo, eu sou esse corpo, eu sou esse corpo nesse mundo».
E que, mesmo se vocês não vejam os pensamentos, em todo caso, vocês podem, deles, ver o resultado direto, é que, no momento em que vocês abrem os olhos, vocês estão nesse mundo.

Naquele momento, vocês podem reconduzir-se à primeira verdade que pudemos ver juntos: «Eu não sou esse corpo».
Constatamos, também, em relação aos pensamentos, que, em função, justamente, da presença ou não do pensamento «eu existo» e do pensamento «eu sou esse corpo», os outros pensamentos apareciam ou não.
Como eu pude dizê-lo, é a base de todos os pensamentos e, quando se coloca no Si, o fluxo de pensamentos desacelera.

Portanto, naquele momento, aí onde estamos colocados hoje, nós vimos que nossos pensamentos, tal como ele são organizados, não podem levar-nos para o novo, e que eles são, todos, baseados em um engano: «Eu sou esse corpo».
A partir daí, não se pode dar crédito aos pensamentos, uma vez que, se eu não sou esse corpo, não há mais pensamentos.
Então, em função de onde vocês estão colocados na investigação, cabe a vocês ver se convém fechar os olhos, se convém deixá-los abertos, se convém colocar o Amor ou colocar a Sabedoria.
Ou se vocês estão perfeitamente colocados na investigação.
(um acesso de tosse faz-se ouvir...)

Então, gostaria de aproveitar um pouco essa tosse mágica, antes de retomar o assunto da investigação, apenas para saber se, quando a tosse aparece, será que é o corpo que vive a tosse ou será que há pensamentos («caramba, eu incomodo os outros…»).
O que eu quero dizer com isso é que é uma demonstração de que o corpo pode tossir, e que é o pensamento «eu sou corpo» que vem pôr um desconforto em relação a essa tosse, ou em relação ao que é vivido, a um dado momento.
Se não há o pensamento «eu sou esse corpo», esse corpo pode tossir, o que eu sou continua a não se mover, e eu não estou preocupado pela razão desse corpo tossir.
Esse corpo tosse porque ele tosse.

É essa noção de, sistematicamente, querer pôr um conceito, uma compreensão sobre o que acontece que vem, a um dado momento, colocá-los no passado, uma vez que se viu que os pensamentos são ligados ao passado, que os conceitos são colocados pelos pensamentos.
E, portanto, tentar pôr conceitos, uma compreensão sobre o que está acontecendo é puxar o que vocês vivem ao passado, ou seja, destruir o que é vivido no instante em que vocês o vivem.

No momento em que vocês vivem a Graça, no momento em que vivem o Amor, vocês não procuram pôr a palavra Amor nisso.
É no momento em que vocês não o vivem mais que vocês ali colocam a palavra Amor.
No momento em que vocês o vivem, vocês não procuram defini-lo, vocês se deleitam nele.
Portanto, a cada vez que vocês vejam os pensamentos vir pôr um conceito, lembrem-se de que isso vem do passado, que vocês não sabem se o passado é válido.
Vocês não podem confiar nos elementos do passado e, em todo caso, nada do passado poderá, jamais, levá-los à Liberdade e à noção de quem vocês são, porque, nesses casos, vocês já o saberiam.

Hoje, eu proponho continuar a investigação ao nível da noção de medo ou da noção de emoções.
Vamos concentrar-nos, primeiro, na noção de medo, uma vez que o medo, a um dado momento vem, automaticamente, impedi-los de viver sua Liberdade.
Quando você está no medo, você está, sistematicamente, em uma forma de proteção na qual você é levado pelo fluxo emocional.
Então, pode-se distinguir que há dois tipos de medos.
Há o medo ligado, eu diria, a algo de muito mecânico, o truque clássico: uma pessoa se esconde atrás de um muro, faz «Wou!».
Está-se em um medo mecânico.
É o medo mecânico.
Vamos deixá-lo de lado porque, uma vez que ele se manifesta, ele se dissolve, imediatamente, ou seja, no momento em que você está em um medo mecânico, ele aparece e ele desaparece, imediatamente, sem deixar, necessariamente, um vestígio longo, e ele não o arrebata, indefinidamente.

O medo que se poderia chamar de psicológico, psíquico, ele o arrebata muito mais longe, ou seja, é o medo que vem nutrir-se, auto-nutrir-se sem parar.
Por exemplo, o medo de ferir-se, o medo de não ter os meios de alimentar-se, o medo de não ter os meios de viver, o que nos leva de volta a essa frase: «é preciso bem viver» ou «é preciso ganhar a vida».

Todos esses medos, se olhamos o ponto de partida de todos esses medos, sistematicamente vamos encontrar um fluxo de pensamentos.
Um fluxo de pensamentos que o leva a ter medo sozinho, ou seja, o fluxo de pensamentos coloca-o em um cenário de algo que já foi vivido ou que jamais foi vivido, e o faz crer que isso pode vir.
E o cenário, dado que se viu, em conjunto, que os pensamentos encadeiam-se, sempre, da mesma maneira, se seu mental, se seus pensamentos têm uma tendência a gerar o medo, você a eles é submetido, muito regularmente, uma vez que, de fato, a cada vez que voltar o cenário, ele conduzirá ao medo.
E, naquele momento, observe que nada de sólido vem portar esse medo, vem fazê-lo emergir.
O que vem fazê-lo emergir são elementos automáticos, pensamentos que se apoiam em elementos de memória, vividos ou não.

Eu repito, a questão não é acreditar em mim, a questão é de vê-lo em você, ver como o medo emerge e ver, eu diria, o lado meigo, uma vez que ali põe-se o Amor.
Isso quer dizer que vocês estão habituados a ali resistirem, vocês estão habituados a deixarem-se levar, naquele momento, pelo que é da ordem da violência do medo, e vocês não veem o lado meigo do mental, que lhes repete a mesma cena, enquanto ela faz mover algo em vocês.
Se você vê a maneira pela qual se revela o medo, se você vê o ponto de partida, ali colocando o Amor, o Amor para esse programa automático que não tem força alguma por si mesmo...

A força vem do fato de que a consciência vem fazê-lo crer que tudo isso, você o vive, mas não há força alguma no surgimento desses pensamentos, que o obrigue a vivê-los.
Se você o olha, apenas como testemunha, testemunha que não julga, então, você verá que o medo não pode crescer, o medo apaga-se, instantaneamente.

Para ilustrar isso, eu lhes proponho olhar, não sei se vocês tiveram a oportunidade de ir ali, mas em um jardim de infância (portanto, onde todas as crianças estão amontoadas em muito poucos metros quadrados, com areia, um tobogã para cinquenta... não, eu exagero), mas nesse jardim de infância, olhem o que se brinca.
A um dado momento, as crianças podem, eventualmente, chorar, porque elas caíram do tobogã e machucaram um pouco o traseiro; vão chorar porque receberam um pouco de areia no olho; vão chorar porque o vizinho tomou o ancinho.
Mas se, como adulto, você não se faz arrastar pela onda emocional da criança («ah! Meu pobre querido»), mas você olha o que acontece, você pode apenas constatar que o drama parece, verdadeiramente, verdadeiramente difícil para a criança que o vive, mas que, ao final, nada há de sólido, e é exatamente a mesma coisa para os seus dramas.

Se você olha com o mesmo olhar, pleno de Amor, para a criança, e com o recuo necessário, isso apenas pode ser engraçado, isso pode apenas ser meigo.
E isso se apoia, eu repito, apenas em pensamentos que não têm validade alguma.

Aí está porque, sem parar, no curso da refutação, pode-se dizer: «Eu não sou meus pensamentos», mas, antes de dizê-lo, é preciso vê-lo.
«Eu não sou meus pensamentos, eu não sou minhas emoções».
Antes de dizê-lo, veja-o, porque, quando você o diz sem tê-lo visto, então, você apenas faz um exercício que permite inflar o mental.
Mas se você o viu uma vez, quando você o diz, você se lembra de que você o validou e não joga àquele que não é suas emoções, você não joga àquele que não é esse corpo: você não é esse corpo, você não é suas emoções.
Não refute o que você não tenha validado por si mesmo.
E vê-se, efetivamente, que não há necessidade de um esforço considerável para ir validar a não validade do mental, do corpo, das emoções.
Alguns minutos de investigação bastam, se há suficiente intensidade.

Então, eu tomei a noção do medo, mas é exatamente a mesma coisa para o prazer, por exemplo.
Você se encontra em face de uma flor magnífica, em face da montanha, magnífica, e, naquele momento, acontece algo fora do tempo, em você, no Presente, magnífico, de reconhecimento.
O que é que vem, imediatamente depois?
«É preciso que eu me impregne disso, para poder nutrir-me disso na sequência ou para poder levá-lo comigo».
Como se pudéssemos captar o que foi vivido no presente para poder levá-lo conosco ao futuro.
Eu tento colocar, levar, não sei como, em mim, tudo o que é vivido, guardá-lo em pequenas caixas que se chamam memória (então, eu sei que isso não se mantém, mas nunca se sabe, forçando um pouco...), e eu quero poder trazê-lo no futuro.
E, obviamente, no futuro, eu não reencontro o que foi vivido.
O que eu reencontro é a frustração de não reviver o que foi vivido e o que eu reencontro é o sofrimento.
Há a separação e, com essa defasagem dessa lembrança que não existe, da noção de prazer.

Aí onde há prazer – não confunda alegria profunda, êxtase e prazer – aí onde, a um dado momento, eu tento captar o prazer, estou certo de que nascerá o sofrimento, uma vez que eu tento colocar o prazer, contê-lo, para poder levá-lo comigo, coisa que eu não posso fazer, e eu acabarei, então, por reconhecer que eu não posso fazê-lo e viver, dele, a frustração, o sofrimento.
O que leva, por exemplo, na noção de casal, à noção de prazer, a um dado momento, seguido da noção de ciúmes e de sofrimento, e de raiva.

Portanto, se no momento em que eu vivo algo de magnífico, eu o deixo viver, aparecer e desaparecer, sem tentar puxá-lo ao interior, sem tentar levá-lo comigo, então, eu não estou sujeito ao sofrimento.
Se eu não sou submisso aos pensamentos, se não sou submisso às emoções, portanto, se não sou submisso ao corpo, aparece a possibilidade da Presença, agora, da Liberdade e, se se continua a ser lógico, se há Liberdade, se há Liberação possível, é que, na verdade, a Liberdade já deve estar aí agora.

E acabamos, em algumas etapas, de ver o que vem esconder a Liberdade, fazendo-nos crer em um mito que, até hoje, nós nem sempre pudemos demonstrar.
O que se pôde demonstrar é que nós não éramos nem esse corpo, nem esses pensamentos que são ligados à crença da existência do corpo, nem as emoções que são ligadas à existência dos pensamentos.
É um edifício, um mil folhas e, assim que se retira uma parte, tudo desmorona por si só.

Resta-nos, ainda, saber se existimos por outro lado, mas, em todo caso, nessa fase, abre-se, já, um espaço de Liberdade, abre-se, já, a Liberdade, uma vez que não há dependência alguma ao corpo, porque nós não somos nosso mental, nós não somos nossos pensamentos, porque nós não somos nossas emoções e, nessa fase, pode-se apenas colocar-se no presente, uma vez que nós não pudemos verificar a existência do passado, como não podemos verificar a existência de um futuro.

Obrigado.


Guiado por Air.
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6 – Investigação de 22 de fevereiro de 2014

O que resta da pessoa? Ninguém…

Então, eu refaço um rápido giro de onde estamos nisso.
Vimos que nós não éramos esse corpo; vimos que o mental funcionava, unicamente, com bases do antigo, com a memória; que era um programa automático; que funcionava, sistematicamente, da mesma maneira; que os pensamentos que lançam o programa automático são: «eu existo», «eu sou esse corpo», «eu sou esse corpo nesse mundo».
E tudo isso, dado que é um encadeamento que se controla muito bem, tudo isso aconteceu, frequentemente, antes que se abrisse o primeiro olho.

Vimos que os medos e as emoções eram lançados pelos pensamentos, exceto, poder-se-ia dizer, os medos instintivos que se colocou de lado, de momento, para ir visitar.
E viu-se o que era a consciência.
Não se reconheceu, mas viu-se que nossa consciência podia não mais estar colada ao corpo (colocar-se no Ser, por exemplo) e, naquele momento, não há mais o pensamento «eu sou esse corpo» e, naquele momento, vimos, igualmente, que os pensamentos desaceleravam, que a noção de «eu sou esse corpo, eu existo», a noção de «eu existo» e, em seguida, de «eu sou esse corpo» lança um fluxo de pensamentos (uma vez que é o fluxo, digamos, inicial).
E, quando esse pensamento inicial desaparece, então, o fluxo de pensamentos desacelera ou, mesmo, desaparece.

Então, tem-se, de qualquer forma, necessidade de saber se o que somos é nosso mental (uma vez que não se abordou essa questão), o que significaria, naquele momento, que o que somos é um programa informático.
Mas vê-se, efetivamente, que, se a consciência é deslocada ao Ser, naquele momento, nós não estamos mais no mental e, no entanto, quando você se coloca no Ser, não há a impressão de ter perdido o que quer que seja, ao contrário.
O que você é não é, portanto, dependente do mental, e não está, portanto, colocado no mental.

Mas eu os lembro de que o fluxo de pensamentos começa por «eu existo» e «eu sou esse corpo», e que se demonstrou que não se era esse corpo, vê-se, efetivamente, que, no próprio mental, nos pensamentos, tudo começa por uma contradição com o que se pôde constatar.
Então, se nós não somos esse corpo, se não somos esse mental, não se pode ser as emoções que são lançadas pelo mental.

Então, pode-se dizer: «eu sou a consciência», e isso pode dar-nos essa impressão, uma vez que é a consciência que nos coloca em diferentes lugares.
Mas será que a consciência age?
Não, a consciência observa.
Será que é a consciência que pensa e que fala?
Não, é a consciência que observa o fluxo de pensamentos e que observa as palavras.

Portanto, após todos os nossos esforços, esta semana, observou-se o corpo, observou-se os pensamentos, o mental, observou-se as emoções, observou-se a consciência, e aparece que nós não somos nada disso.

Então, será que você vê outro lugar no qual você pode ser colocado?
Será que você vê outro lugar no qual uma pessoa possa existir?
Será que você vê a existência do ego?
Até o presente, dizia-se: o ego é o mental, o corpo, as emoções, a consciência, misturados.
Quando se olha tudo isso separadamente, vê-se o ego?

Então, aí, gostaria de voltar à primeira descoberta que fizemos esta semana: «eu não sou esse corpo».
Será que a noção de «eu não sou esse corpo» retirou algo no desenvolvimento desse corpo?
Será que suprimiu algo?
Absolutamente nada, a não ser a adesão ao «eu sou esse corpo», mas esse corpo continuou a funcionar, enquanto nós sabíamos, muito bem, que não éramos esse corpo.

Será que o fato de ver que nós não somos esse mental impede os pensamentos de funcionarem?
É claro que não.
Não é o fato de descobrir que nós não somos esse mental que muda a natureza do mental e dos pensamentos.
A natureza do mental era a mesma, antes que se observasse a natureza do mental.
E, como você não vê ninguém no corpo, no mental, nas emoções, mesmo na consciência, como você vê os funcionamentos separados de diferentes aspectos, o fato de vê-lo, será que isso retira algo?
A natureza da consciência estava aí, igualmente, antes que a observássemos.

Nada se vê no interior, ninguém se vê no interior, exceto o pensamento que poderia gerar um medo ligado ao desaparecimento.
Será que o fato de que não haja ninguém no interior retirou algo?
Será que, ao contrário, isso não liberou um espaço, um espaço no qual se havia colocado a pessoa, no qual não se via claramente e no qual, agora, vê-se que nada há?
Será que, se você chega, efetivamente, a essa conclusão, se você o vê, por si mesmo (que nada há, ninguém no interior), será que você pode ver a beleza da construção, a beleza dessa máscara que você tem usado?

Eu os lembro de que a raiz etimológica da «pessoa», é a máscara, e eu os lembro de que, mesmo na linguagem, desde o início, dizem-lhes, em francês, que você é uma pessoa, e que não há ninguém [ndt: em francês, é a mesma palavra, “personne”, que é usada tanto para significar pessoa, como para significar ninguém, dependendo do contexto].
É a mesma palavra, para significar duas noções que vocês acreditaram opostas.
Mesmo nas palavras, isso sempre esteve aí...
E, portanto, ao nível dessa máscara composta do corpo, do mental, das emoções, vê-se que, quando a consciência vem colar-se em cima, quando a consciência vem colar-se no mental, quando a consciência vem colar-se no corpo, ela dá a impressão da existência de uma pessoa.
Aí, onde não havia ninguém, há uma persona-lidade: uma pessoa doente [ndt: foi feito um jogo de palavras que, no francês, dá mais sentido: “personne malade”].

Portanto, se você está aí, quem procura a Liberação?
E, se não há mais ninguém para procurar a Liberação, o que é que acontece?
Não há mais ninguém prisioneiro.
Não há mais ninguém no interior de você que você possa avaliar, não há mais ninguém no interior de você que você possa acusar.
Não há mais ninguém para jogar de vítima, mais ninguém para jogar de juiz.

Progressivamente, vocês colocam todas as máscaras que usaram em circulação, porque vocês pensavam que havia alguém que era proprietário da máscara, e não há ninguém para reivindicar-lhes a propriedade.

E, se vocês puderam percorrer tudo isso, o que é que resta?
A Paz, a Tranquilidade, a Simplicidade.
Não há mais alguém que procura compreender.
O próprio fato de alguém que procurava compreender criava a complexidade.

Então, obviamente, apesar de termos visto tudo isso, pode haver tentativas de volta de uma pessoa, que se diz: «Sim, mas eu sinto muitas coisas em meu corpo…».
O fato de que coisas sejam sentidas no corpo prova que há sensações nesse corpo, prova que há um movimento nesse corpo, unicamente isso.

Então, agora, se você viu que não havia ninguém em você, se o mito dissolveu-se, será que você pode ver alguém no outro?
Vamos ficar aí por hoje...

Uma última coisa...
Se, a um dado momento, as resistências do programa automático aparecem, não há mais alguém para julgar por isso.
O programa automático não pode ser julgado por isso.
Portanto, pode-se, simplesmente, ali colocar o Amor e reconhecer que isso faz parte do movimento normal do programa automático que trabalha para a sobrevivência, no automático.

Portanto, magnífico, muito belo programa, que continua, talvez, a funcionar para tentar salvaguardar o que ele vê, o que se abre e que isso pode ser doloroso.
De qualquer forma, é normal, uma vez que isso se chama a morte da pessoa, o desaparecimento da pessoa.
Não há necessidade de derramar-se em cima: deixa-se o programa automático rodar onde ele está, e permanece-se centrado no que se viu, não no que eu disse, mas no que vocês viram por si mesmos.
É nisso que vocês se apoiam.

Guiado por Air.
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7 – Investigação de 24 de fevereiro de 2014

Prosseguir a investigação.

Então, vamos começar, no silêncio, a recolocar-nos onde havíamos parado...
Hoje eu não vou recapitular os diferentes aspectos da investigação da semana.
Vamos, hoje, simplesmente, tentar refletir em relação à investigação, em relação a onde vocês estão nisso, e tentar ver, juntos, como a investigação prossegue, e como isso acontece.
Porque a investigação que foi proposta esta semana está aí para mostrar-lhes como podia acontecer a investigação e, sobretudo, para mostrar-lhes que era extremamente fácil.
Porque, vocês viram, à razão de meia hora por dia, onde nós chegamos...

Então, em seguida, cabe a vocês investigar e, cada vez que a noção de alguém aparece, investigar, para ver quem é esse alguém.
E, ao invés de jogar com isso de maneira permanente – vocês podem fazê-lo se conseguem ter uma capacidade de atenção suficiente – mas para nada serve jogar com isso o dia todo, se é, simplesmente, para permitir ao mental afiar suas armas para perdê-los, novamente, nas incoerências.
Vale mais cinco verdadeiros minutos de investigação pela manhã e cinco verdadeiros minutos de investigação à noite, no momento em que você está, ainda, na cama e está tranquilo, ao invés de realizar falsas investigações, ou seja, realizar um esporte durante o dia todo.
Porque você viu que não há necessidade de uma prática longa para ver que não havia ninguém.

Então, se você chegou ao ponto que não há mais ninguém, a partir de agora, é muito mais simples porque, mesmo se alguém aparece, basta-lhe perguntar quem é esse alguém e procurá-lo, mas procurá-lo na suavidade, ou seja, sem se ater ao buscador, que deve dissolver-se, também, uma vez que a resposta tenha sido encontrada.
Porque buscar o alguém, se isso provoca outros papéis a desenvolverem-se...

Voltar à questão «quem sou eu?», uma vez que tenha podido fazer a limpeza, suficientemente, pôde levar suficiente coerência à sua visão do que é a Vida.
A investigação não procura dissolver o que quer que seja, a investigação procura apenas instalá-lo na coerência, na Verdade.
A Dissolução e a Liberação não preocupam ninguém.

Portanto, cabe a você, simplesmente, realizar a investigação e, em seguida, deixar o espaço.
E, se o espaço é deixado, o que é levado a revelar-se ou não, não preocupa mais ninguém.
Então é fácil, naquele momento, deixar-se tomar, uma vez que não há ninguém que deva abandonar-se, não há ninguém que se ofereça.
Na realidade, a oferenda é muito natural, normal, uma vez que não há ninguém.

Eu gostaria, porque é algo que resume bem onde se pode estar nisso e, sobretudo, que pode ser uma Graça, de ler para vocês uma oração de Mooji: «Bem Amado, permita-me jamais imaginar que eu sou alguma coisa. Permita-me jamais esquecer de que eu nada sou. Quanta Graça você preencheu em meu ser: ter preenchido esse espaço com você.».

Então, eu diria que a última parte não está, talvez, ainda, no lugar, porque a Graça do Bem Amado que vem preencher o espaço acontece quando o espaço está vazio.
Aí está porque tudo começa por «Bem Amado, permita-me jamais imaginar que eu sou alguma coisa. Permita-me jamais esquecer de que nada sou.».
E isso leva a viver o fato de que não há ninguém.
Isso os leva ao que é chamado o Absoluto ou a a-consciência e, naquele momento, vocês não procuram o Bem amado; há ninguém que procura nada...

E, uma vez que o espaço tenha sido esvaziado (mas isso não acontece no mesmo instante), uma vez que você tenha vivido nesse espaço no qual nada há, no qual há apenas a Felicidade, o Êxtase, mas no qual você não vê ninguém, a um momento, desembarca nesse corpo o Bem Amado, o que, nas conversas que eu coloquei no site, eu chamei de Retorno do Rei.
O que quer dizer que, aí, onde não havia ninguém, você vê aparecer alguém...
Você vê aparecer não alguém, você vê aparecer o Um.
E, naquele momento, não unicamente você é Liberado, porque a Liberação foi bem antes, a partir do momento em que não havia ninguém, a partir do momento em que você foi liberado da pessoa, mas você vive, igualmente, o que pode ser chamada a Iluminação, ou seja, a instalação no Um, o reconhecimento de que, nessa Criação, você está aí, mesmo se o que você é esteja para além da Criação.

Eu diria que é o momento em que se juntam o que você é, em Verdade, e o que você é, na Criação.
A Verdade total revela-se.

Então, se você vive momentos nos quais não há mais ninguém e, algum tempo depois, há, novamente, alguém, sempre a mesma coisa: Amor, Sabedoria; acolhe-se o fato de que haja alguém, no Amor, e demonstra-se Sabedoria: coloca-se a questão «quem sou eu?», «quem é esse alguém?».
Não se deixe tomar em um cenário que é «ah, isso volta sem parar», sem ter verificado que algo voltou, que alguém voltou.
Sim, a consciência volta a colar; sim, o mental está no caminho.
E então?
Aceitar a ideia de que você ali não chegará é uma incoerência, porque, dado que não há ninguém, como alguém poderia ali chegar, e como alguém poderia ali não chegar?
Encontrar aquele que quer ali chegar, encontrar aquele que crê ali não chegar...
Não se coloque na incoerência, não aceite, novamente, a incoerência.
Aceitar a incoerência é aceitar não verificar a validade do que é percebido.
Porque, a um dado momento, se há alguém, é que há o conceito de alguém.
Portanto, é preciso ver se algo corresponde ao conceito de alguém.
E, eu diria, por toda parte em que há conceito, há a possibilidade de realizar a investigação, e você ficará surpreso, por toda a parte em que há conceito, de ver a incoerência.
Mas, em relação ao que já se observou, o funcionamento do mental, como poderia ser de outro modo?

Portanto, a questão, hoje, é saber se você se sente pronto a continuar a investigação, a continuar essa busca da Verdade, por si mesmo, sabendo que, eu repito, ninguém poderá dizer-lhe onde está a Verdade.
Você deve seguir-se a si mesmo...
Seria preciso saber quem você deve seguir porque, assim que você segue a vida de outro, você já aderiu ao fato de que você era alguém, que havia outro alguém e que esse outro alguém conhecia a Verdade.

Será que você verificou que esse outro alguém conhecia a Verdade?
A única solução que você tem de verificar que alguém conhece a Verdade é verificar, por si mesmo, o que é a Verdade...

E você verá, por si mesmo, naquele momento, uma vez que a Verdade for desvendada, que aquele que conhecer a verdade quer, efetivamente, partilhá-la, mas, em caso algum, procura impô-la a você.
Porque a Verdade não pode impor-se, caso contrário, bastaria descrever o que é a Verdade...

Para terminar, se há questões concernentes à investigação... como prosseguir a investigação, se há necessidade de prosseguir, porque, a um dado momento, mesmo a investigação deve dissolver-se...

Q.: Quando tivemos a mensagem de URIEL, que nos disse para ficar tranquilo, foi na sequência de sua intervenção de investigação sobre o mental, e você disse: «URIEL disse-nos, pela manhã, justamente, para prestar atenção no corpo» e, aí, você disse: «para não dizer eu sou esse corpo», é preciso dizer: «eu existo»...

Não, é o que acontece pela manhã.
O primeiro pensamento da manhã é: «eu existo».
O segundo pensamento é: «eu sou esse corpo», e o terceiro é: «eu sou esse corpo nesse mundo».
Portanto, se você já pôde observar, se pôde observar que você não era esse corpo, quando o pensamento «eu sou esse corpo» aparece, você pode dar uma boa risada e dizer: «ah, ah! Você o refaz ainda esta manhã!».
Mas, juntos, esta manhã, nós vimos que não éramos esse corpo, que o que eu sou não é esse corpo.
E o pensamento seguinte: «eu sou esse corpo nesse mundo» não pode mais aparecer.

E, aliás, gostaria apenas de esclarecer, sobre a noção de ficar tranquilo que é, aí também, uma questão de Amor Sabedoria.
Ficar tranquilo traduziu-se por: «nada fazer, esperar que isso aconteça».
Será que você está tranquilo nos pensamentos?
Se você está afogado nos pensamentos, mesmo se você está, tranquilamente, sentado em uma poltrona, será que você está tranquilo?
Estar tranquilo é acolher no Amor, na Sabedoria, puxar o que tem necessidade de Amor no Amor, puxar o que tem necessidade de ser iluminado na Sabedoria, sem violência, uma vez que se permanece no Amor e na Sabedoria.

Q.: Eu tenho outro problema: eu não consigo desmontar o conceito de Alma.
Eu continuo refugiada na Alma.
Eu observei, eu me dei conta de que havia uma angústia, porque é um pouco o último refúgio, uma última ancoragem, que havia uma angústia: não soltar a coisa.
Eu tento trabalhar, dizendo-me que é um conceito, mas não consigo, não consigo sair disso...

Então, se há o medo, sabe-se que o medo vem dos pensamentos.
Portanto, há o pensamento, antes disso, de que há um perigo.
Portanto, quem está em perigo?

Q.: eu não sei se é o mental ou a consciência, eu não sei.

Mas será que o mental ou a consciência é a pessoa?

Q.: Eles estão na pessoa.

Nesse caso, onde está a pessoa?
Não pode haver o pensamento de que há alguém a proteger se não há, preliminarmente, a noção de: «há alguém» e, aí, quando você põe a consciência e os pensamentos na pessoa, é que você coloca a pessoa em algum lugar.
Portanto, há, sempre, a presença da pessoa, que tenta esconder-se, mas onde?
Onde ela pode esconder-se?

Ela não é esse corpo, ela não é esse mental, ela não é a consciência, então, ela se esconde por trás de outro conceito, que é a Alma, mas ela não sabe, mesmo, o que é a Alma.
Amanhã, uma vez que for desmontado o conceito da Alma, a pessoa dirá: «eu estou colocada no Espírito», mas ela estará colocada no conceito de Espírito.

Aquele que está colocado no Espírito não tem, mesmo, mais pensamento.
Ele reside na Morada de Paz Suprema.
Portanto, se há pensamentos, não é que a pessoa esteja escondida na Alma ou no Espírito, é que a pessoa continua no mesmo lugar, ou seja, na crença da existência nesse corpo, da existência da capacidade do mental para saber discernir o que é verdadeiro ou não.

Portanto, não há necessidade de ir procurar longe: assim que há pensamentos, assim que há medos, você sabe onde você está.
Quaisquer que sejam as palavras que se vá colocar nisso, você sabe onde você está.

Se há necessidade de proteger alguém, não há dúvida alguma.
É a única informação a tomar porque, efetivamente, assim que se vai procurar saber (proteger de quê, em qual lugar...), então, o mental vai contar-nos uma história.
E como a história: «há alguém no corpo», isso parece funcionar muito bem; o mental conta-lhe que há alguém na Alma, mas eu a lembro de que Ma Ananda Moyi veio dizer-nos, na terça-feira, que a Alma, para alguns e, portanto, em breve, para todos, seria levada a dissolver-se no Espírito, ou seja, desaparecer e, naquele momento, a pessoa vai passar onde?

Você não tem necessidade de tranquilizar-se, porque você sabe que os medos são uma montagem.
Você deixa o medo revelar-se, sem prender-se ao medo, dizendo: «ah, ah! Eu conheço seu mecanismo».

O que nos interessa não é o medo, não é saber porque há medo.
O que nos interessa é: hei! O medo está aí, ele decorre de uma projeção do mental que se coloca para o futuro, portanto, tudo isso, eu conheço muito bem, mas, obrigado por voltar a mostrar-me, de novo, porque há, talvez, algo que eu não tenha apreendido, completamente, na maneira pela qual o mental vem nutrir o medo.

O assunto do medo não me interessa, eu observo.
Eu observo o mecanismo.

Q.: Ao final dessa semana de investigação, eu descubro que não realizei a investigação, que minha vigilância ficou na descrição da investigação, e eu não encontro o acesso a essa profundidade, a essa intensidade que permite passar da retórica da investigação à investigação verdadeira.

Então, isso leva a qual é o ponto de partida da investigação...
Porque, efetivamente, em qual momento a investigação começa, verdadeiramente?
E a investigação começa, verdadeiramente, quando há a sede de encontrar a Verdade, não a sede de compreender um mecanismo ou de adquirir mais conhecimento, mas a sede de conhecer a Verdade, porque se reconhece que a acumulação de conhecimentos, que tudo o que se pôde viver, igualmente, ao nível vibratório, ao nível das efusões de Amor, nem sempre levou-nos à Verdade.

Portanto, a um dado momento, há essa tomada de responsabilidade que é: OK, finalmente, o que é que eu sei?
De que eu tenho certeza?
Eu acumulei tantos conhecimentos, vivi diferentes estados, mas o que é que eu sei?
Qual pode ser a base sobre a qual eu construo o resto?

Então, há respostas rápidas, que poderiam dizer: «Ah, mas eu conheço, perfeitamente, o Advaïta, ou eu vivi estados vibratórios nos quais eu era o Universo inteiro...».
E daí?
Você é o Universo?

A investigação começa no momento em que se abandona a ilusão de saber algo, a ilusão de dominar algo.
A investigação começa no momento em que se reconhece ignorante total.
Se você sabe alguma coisa, então, a investigação nada pode fazer por você.
A investigação começa reconhecendo-se a ignorância.
Se você não reconheceu a ignorância, então, a investigação será, sempre, uma atração.
A investigação vai desenrolar-se para vir nutrir o conhecimento que eu creio dominar.
Mas, se você o domina, verdadeiramente, o conhecimento que você crê dominar, ele seria coerente e sua vida seria coerente em relação aos seus conhecimentos.
Você não viveria de switch da Consciência: de repente eu sou o Ser, de repente eu sou a pessoa porque: você é o Ser ou a pessoa?
Então, se eu não tenho demasiado trabalho, eu sou o Ser, e se tenho muitas coisas a fazer, documentos a fazer, eu sou a pessoa?
Ah! Será que se pode chamar isso de conhecimento?
Eu o chamo de pirueta, sim, «pirueta, amendoim» [um nada] porque, efetivamente, é um jogo.

A um dado momento, é preciso parar de enganar-se, é preciso parar a complacência, não com os outros porque, enquanto se está na complacência consigo mesmo, você observará, em geral, raramente, é-se complacente com o outro... sistema de vasos comunicantes..., dado que eu sei das coisas, vou divulgá-las aos outros e, se os outros não estão de acordo, então, são os outros que estão, verdadeiramente, perdidos, por exemplo...
Ou a complacência de acolher, de ter lido montes de livros espirituais, de dominar, perfeitamente, os conceitos e nada viver porque, efetivamente, a espiritualidade pode ser um terreno de jogo para o conhecimento mental, para os conceitos.
É um terreno de jogo fabuloso.

Isso me lembra, há alguns anos, eu encontrei uma pessoa.
Quando eu a escutava, eu me dizia uau! Tudo o que ele sabe! «Somos todos Um»: parecia-me tanto dizê-lo com convicção que, para mim, estava claro, ele o vivia.
E depois, todos os conceitos… durante dias ele falou-me...
Eu me dizia uau, uau!
Depois, a um dado momento, eu lhe digo: «Você vive ao nível do Coração?».
«Ah! Mas nada!» (ndr: respondeu ele).
Ele tinha apenas um truque que ele não vivia, era a mínima manifestação de tudo o que ele exprimia.

Naquele momento, eu agradeci a ele, em meu foro íntimo, por ter-me mostrado que aqueles que manipulam bem os conceitos não são, necessariamente, aqueles que viveram o que quer que seja.
Um mental muito forte manipula muito, muito bem os conceitos e, se ele registrou suficientemente o que devia dizer e em qual momento, o que parecia coerente, ele se cria o universo em relação a isso e você embarca em longas descrições de coisas que não são vividas.

Portanto, tanto faz dizer que aí, onde há esse conhecimento, ou seja, o conhecimento mental, que esse conhecimento mental é valorizado, esse conhecimento mental é colocado à frente, naquele momento, não pode haver reconhecimento de seu estado natural, que é a ignorância.
É preciso que o motor esteja aí.
É preciso saber quem você é, saber sobre o que basear sua vida.
É preciso que isso esteja aí.

Se você decidiu viver no compromisso, se consegue viver, tranquilamente, no compromisso, muito bem, não se lance na investigação.
Não há a essência para ali ir.

Se você está desesperado, se você está cansado e não sabe mais, de modo algum, onde você está, se você está na raiva, então, aí, há, talvez, a essência.
Se você tem uma tristeza infinita que vem regularmente, OK, você está cansado e não sabe como fazer para sair disso, você reconhece a ignorância.
O ponto de partida está aí.

Então, não há necessidade de ficar desesperado para reconhecer a ignorância, mas, aí, quando você pensa estar perdido, então, você chega ao ponto de partida e você sabe que, com a Luz, quando você tenha encontrado o ponto de partida, você já está na chegada.

Q.: É a fase dos trabalhos práticos, ou seja, há pouco, eu devia tomar meu banho rapidamente, e o tempo que a água quente chega, eu teria chegado com muito mais atraso.
Então, eu tomei minha ducha fria e é aí que, a um dado momento, ela estava gelada e, depois, o fato de não ser ninguém, ela não estava mais gelada.
Mas havia esse vai-e-vem permanente – um pouco gelada, não gelada – havia esse ir e vir.
E depois, a um dado momento, ela não estava mais gelada, absolutamente, enfim, ela estava normal, ou seja, eu não a sentia mais, e isso continuou assim, até eu colocar os pés nas botas e, aí, houve uma sensação de suavidade infinita, porque não havia ninguém.
O corpo estava molhado, mas, justamente, será que o fato de fazer esses exercícios práticos, esses trabalhos prático, como eu os chamo, não é, de algum modo, também... não, é perfeito.... é bom.

Obrigado pelo exercício prático, porque havia, no início da intervenção, uma pessoa que tinha uma questão, que desaparece e... não há mais questão.
Efetivamente, há vai-e-vem.
Deixe fazer, olhe quando isso volta.
Pergunte quem está aí, ou nada pergunte, deixe fazer.
É naquele momento que é preciso ficar tranquilo.


Guiado por Air.

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2 comentários:

  1. Muuuuito obrigado por estas traduções!!!

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  2. no meu viver ja tenho uma pequena clareza de vivencia a vida no Planeta Terra e encontrei essas alerta, ou como queria resumo de esclarecimentos .
    Achei fantástico, pois não encontraria coisa melhor. Bem compacto que bem vivido nos leva direto "ao Caminho a Verdade e a Vida" no leva de volta a Unidade e Verdade.
    Somos todos Um, Somos simplesmente Luz Divina.
    Obrigada

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